Terapia hormonal na Menopausa- Porque não devemos continuar com medo do risco de câncer de mama?
Uma publicação recente em 11 defevereiro de 2022 na Revista Climateric tem este título.
Fear make the wolf bigger than he is. Provérbio alemão que traduzido diz: o medo torna o lobo maior do que ele é.
Tudo começou em 2002 com a publicação do estudo WHI. Neste estudo houve interrupção do trabalho antes do previsto no braço de mulheres que usavam reposição com estrógenos equinos conjugados e acetato de medroxiprogesterona. Interessante que este mesmo trabalhou demonstrou que o uso de estrogênio isolado poderia até reduzir o risco. Mas mesmo assim até hoje esse trabalho gerou repercussões midiáticas e de grande paúra em relação ao tratamento hormonal. A paciente histerectomizada pode e deve fazer a reposição pois não haveria acréscimo de risco. E não fazer a reposição sim pode ter consequências na saúde e qualidade de vida. Hoje sabemos que a idade onde foi feita a reposição no WHI foi grande erro do estudo.
Vinte anos se passaram e muitos trabalhos melhores e mais bem feitos foram realizados. Esta revisão publicada na Revista Climacterics lista 5 razões pelas quais médicos e mulheres não devem mais temer fazer a reposição pelo medo de câncer:
- o risco relacionado à reposição é pequeno;
- o risco de câncer de mama com a reposição na prática não é relevante;
- fatores de estilo de vida modificáveis implicam em maior risco , como por exemplo: sobrepeso, obesidade, sedentarismo e alcoolismo;
- a mortalidade por câncer de mama em usuárias de reposição é menor quando são diagnosticadas com câncer de mama;
- evitar ou não fazer a reposição numa mulher com indicações de fazê-la pode colocá-la em perigo.
Sei que isso pode chocar muitas de vocês. Mas é a Sociedade Internacional de Menopausa que publicou este artigo. Na Revista Mundial mais importante sobre o assunto, a Climaterics.
Isso é uma coisa que quem é minha paciente eu sempre falo: todas nós com a idade temos acréscimo de risco de desenvolver câncer de mama. Isso independente de estar ou não fazendo a reposição. O Câncer de mama é frequente e aumenta os casos conforme envelhecemos. Porém fazer a reposição combinada com estrogênio e progesterona pode aumentar o risco dependendo do tempo de uso e qual progesterona é usada, mas esse aumento de risco é pequeno. Por exemplo, a progesterona usada no WHI foi o acetato de medroxiprogesterona. Sabemos que algumas progesteronas tem maior risco que outras. Existem trabalhos recentes mostrando que a progesterona natural micronizada e a diidrogesterona não aumentariam o risco. Em 2016 a Cochrane também fez uma revisão mostrando a segurança da tibolona.
Se queremos reduzir nosso risco de câncer de mama o melhor caminho é uma alimentação saudável, atividade física regular , prevenir sobrepeso e tratar obesidade, reduzir consumo de álcool ou seja com essas atitudes estaremos prevenindo não só câncer de mama mas várias outras doenças.
É tão importante individualizar. Cada mulher é única. Não somos mamas – somos cérebro, osso, pele, cartilagens, coração, sexualidade, ou seja não devemos pensar em um órgão mas em tudo. Em mulheres de alto risco, com história familiar de mães , irmãs , filhas, principalmente quando os casos de câncer de mama ocorreram antes dos 50 anos devemos individualizar mais ainda. Na população de alto risco devemos pedir auxílio pro mastologista eventualmente fazer painel genético. Cada mulher tem direito a decidir por ela mesma.
Infelizmente a reposição não é pra todas, sim existem contra- indicações. Mas vejo na prática diária muitas mulheres que poderiam e deveriam estar fazendo , não fazer por medo.
A reposição além de aumentar a qualidade de vida pela melhora dos sintomas reduz a mortalidade por várias doenças, quando feita na janela de oportunidade (primeiros 5 anos de menopausa).
Minha dica é viva e não tenha medo. Pois o medo nos paralisa.
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Eu só queria agradecer, o q a senhora está fazendo por mim. Anos com problemas da menopausa, problemas delicados na região íntima, sem perspectiva de ter uma melhora na dor q eu sentia, para manter relação com meu marido.
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É muito importante abordarmos esse tema, já que apesar de a menopausa significar para maioria das portadoras dessa doença a cura, em algumas mulheres os sintomas podem sim persistir. E, dependendo da forma como é feita a terapêutica hormonal, ela pode reativar a doença residual.